Rui Veloso menciona na canção "A veia do Poeta" do álbum "A espuma das canções" o seguinte: "Ai de quem nunca guardou /Um pouco da sua alma/Numa folha secreta...".
Os dias passam, viram semanas, meses e anos e vamos adiando sonhos, objectivos e quem realmente queremos ser.
Adoro escrever mas o rodopio do dia a dia faz-me esquecer de mim, de pensar no verdadeiro sentido das palavras e claro, de registar esses pensamentos.
Até que por vezes pensar leva ao sentir e sentir leva ao sofrimento e esse tem definido muitos, bem demasiados dos meus dias.
Tornei-me banal, penso que é isso, banal, previsível, a típica e aborrecida mulher casada, mãe, que se esquece de existir e nem se apercebe até ser tarde demais.
Antes de casar não tinha liberdade para existir; casei a trabalhar durante o dia e a estudar à noite...faltava-me o tempo; terminei o curso com um filho nos braços e a minha existência passou a ser a dele.
Não, não é uma queixa; é a realidade de quem cresce a tentar não existir para não incomodar e se esquece que já é adulta e já pode decidir.
No meio deste conflito de inexistência vive em nós a tristeza, o desalento, a raiva e nem nos apercebemos o quanto destes sentimentos negativos transmitimos a quem mais amamos.
Tornamo-nos tóxicos, um campo de energia negativo e somos abandonados na rua como uma camisola que já não serve, trocados por um modelo mais recente e sorridente.
E agora?! Agora que caíste na realidade; olhas no espelho e vês no que te tornaste; no que perdeste...o que vais fazer?!
O que podes fazer?!
Não sabes e nenhum Deus do Olimpo aparece para te ajudar.
Os "amigos"; sim esses que tentas ajudar e já ajudaste sempre que precisaram, milagrosamente desaparecem.
E estás rodeada de nada... e perdeste o Amor da tua vida.
ACORDA! Estás SÓ!
Nasceste, cresceste e vais morrer só, a sofrer...
Vale a pena viver?
Quando tiveres 80 anos e estiveres só, sentada no banco do jardim a olhar para o chão, olhos moribundos enxaguados de água, a relembrar o Amor da tua vida...será que vai valer a pena viver até lá?
Viver sem o abraço que te faz sentir segura...sem o som da respiração a embalar-te durante a noite a teu lado... como viver sem o calor do corpo que alimenta a minha vida?
Terei parado no tempo e ele não? Será isso? Tornei-me o estereótipo de mulher casada da sociedade e ele não? Mudou, evoluiu e deixou de ser quem era? Ou fui eu que desisti de ser quem queria ser?
Como reconquistar o que outrora foi meu? Será possível voltar a amar alguém que já se amou?
Será possível ele esquecer todo o ódio, raiva e mágoa que sente em relação a mim?
E eu? Serei capaz de esquecer o que aconteceu?
O que pôr na balança?!
Estarei eu própria na balança?!